
Islândia - 2010
O tempo na Islândia tem humores. E não tem apenas a ver com os vulcões.
Para uma viagem de turismo o melhor é conceber um dia com quatro estações. O mais difícil é o vento frio.
De dia pode haver um pouco de sol mas rapidamente muda.
Nos dias solarengos é provável ter uma surpresa ao final da tarde, com o por do sol.
Magnifico.
Reykjavik é uma cidade pequena. Bonita, essencialmente a parte mais antiga.

A rua principal tem muitas lojas e restaurantes mas não é igual a de muitos outros locais turísticos. Parte significativa das lojas é para comércio local. Desde ferramentas, comida, vestuário a pequenas livrarias.
Só na zona central é que impera o comércio mais dirigido a turistas.
Há zonas residenciais desinteressantes mas muitas ruas estão decoradas com as cores das casas tradicionais.
As mais antigas são de madeira.
A cidade percorre-se bem a pé.
Facilmente se identifica o norte por causa do mar.

Um dos passeios mais interessantes é por uma estrada urbana que parte da paragem dos autocarros e vai até ao mar.
A referencia é uma mansão branca de madeira. Está isolada. Foi aqui a cimeira entre Reagan e Gorbachtov que marca uma das fases mais relevantes do fim da Guerra Fria.
Se tiver a sorte do tempo estar descoberto vê de imediato uma zona rochosa, lá ao longe que se reflecte no mar.
Se o céu estiver um pouco nublado, o mar faz de espelho. Como a água é escura, devido à profundidade, as nuvens reflectem-se com contornos bem definidos.
Se for ao final da tarde é ainda mais espectacular. Misturam-se cores azuis e alaranjadas com um efeito fantástico. Varia de minuto para minuto.
Eu ainda tive mais sorte. Um arco-íris que se prolongou durante imenso tempo. Deu para percorrer a avenida até ao porto e contemplar uma paisagem inesquecível.

Pelo caminho há uma estátua metálica dedicada aos marinheiros.
Tem a forma de um barco. Tão simples quanto bonita.
Num dos dias que passei por aqui, estava uma ligeira humidade e nuvens. A estátua brilhava com as gotas.
Num outro dia, de sol aberto, a estátua reflectia os contornos metálicos. Sempre num ambiente calmo e contemplativo.
Dá para sentar no cais e olhar o horizonte. Com serenidade e sentir a dureza, o isolamento de quem navegou estas águas.
Poucas pessoas andam por aqui. São mais frequentadas as ruas no interior da cidade.
A “marginal” tem apenas o movimento automóvel.
Carros utilitários, muitos mistos, com capacidade de transporte de mercadorias, e adaptáveis a percursos fora de estrada. O parque automóvel não é novo.

A estrada termina perto da ópera (quando da minha visita ainda estava em construção, o que me causou admiração, tendo em conta a grave crise económica da Islândia).
Após uma longa curva, estamos na zona central.
De um lado, um longo jardim que sobe a encosta e lá em cima uma estátua, ao lado a casa da cultura e, na parte de trás, um edifício grande, o teatro.
Do outro lado, uma zona de bares, uma agencia de turismo que faz vizinhança com o mercado e o porto.
O mercado não é muito grande e tem piada.

Produtos da pesca, vegetais, vestuário, alfaias agrícolas, brinquedos, artigos em segunda mão e pequenas lojas com comida e bebida.
É um armazém grande, com ar rústico e muitas das pessoas que vão aqui abastecer-se são de fora de Reykjavik.
Esta é aliás uma característica da ilha.
Muitas pessoas vivem isoladas ou em pequenos povoados.
Deslocam-se aos principais centros urbanos para tratarem de necessidades básicas.
Comida, combustível, medicamentos e depositar ou levantar dinheiro.
Do outro lado da estrada fica o porto.
Pelo meio há ainda os vestígios de uma linha de caminho de ferro. Com uma pequena locomotiva.

O porto não é muito grande.
Poucas pessoas, alguns armazéns fechados e onde havia mais movimento era na parte de transporte de passageiros.
O acesso estava vedado, provavelmente por restrições de emigração.
Um barco de cruzeiros e embarcações de pesca estavam ancorados.
Um deles funcionava como restaurante. Serviço refinado e muita clientela em particular à noite.

Numa das visitas a luz natural era fantástica.
O arco-íris e as várias cores a reflectirem-se na água.
Tons amarelos, laranja, azuis...
Um barco estava a entrar no porto, mesmo ao lado do farol que cintilava uma luz ligeira, adaptada ao ambiente.
Nesta zona do porto há pequenas casas de madeira com partes metálicas.

Algumas são restaurantes.
Fomos provar a sopa de lagosta e um bife de baleia.
A sopa era sensacional. Além de saborosa, aquecia o corpo. O bife... tive pena da baleia o que estragou o paladar.
O restaurante deve ter, no máximo, quinze metros quadrados. Mesas de madeira, bancos e jerricans que servem de assento.
A lotação máxima deve ser de oito a dez pessoas.
Está decorado com produtos artesanais de pesca e ilustrações antigas.

A caminhada seguiu para fora do centro.
Uma mistura de edifícios públicos e construções antigas.
Galerias de arte modernas convivem com bares antigos de madeira. Pequenos jardins. Uns públicos outros privados. Alguns com estátuas.
Nesta zona a maioria das casas têm dois pisos.
Há também um museu que relata a origem da Islândia e as tradições e costumes.
A relação com a Dinamarca, a independência, a importância do domínio das artes de navegação, em particular para a pesca.
Estão em exposição achados arqueológicos mas também produtos mais modernos que relatam a confluência de culturas essencialmente entre os dois continentes, a Europa e a América.

É próximo desta zona que está a praça com o jardim do município.
Um edifico de pedra, escura, com o brazão real em cima e ao lado um outro, todo branco.
É uma igreja com uma torre de madeira, com um relógio e em cima um lindo catavento.
Em frente um jardim bem cuidado que tem no meio uma estátua.

Do lado contrário a estes edifícios históricos há um passeio com mesas e bancos dos restaurantes.
Num dos dias que passámos por aqui estava sol e muita gente sentada no jardim e nas mesas dos restaurantes.
Almoçámos no Paris.
O interior é simpático, com uma arquitectura moderna, empregados jovens e clientes com alguma idade que vão tomar um chá e conversar com os amigos.

Para além deste jardim esconde-se uma parte de Reykjavik que é linda.
Uma lagoa enorme, rodeada de casas e jardins.
A água reflecte as cores do castanho outonal das árvores.
Pelo meio alguns patos procuram os visitantes.
Famílias dão um passeio e as crianças não resistem a oferecer um pouco de pão às aves.
Um dos lados da lagoa tem um caminho romântico.
Com muitas árvores e estátuas.
Vasos com flores dão ainda mais colorido.
Ao lado habitações. São poucos os carros mas os que estão parqueados são mais modernos e caros do que a média do parque automóvel.

Na parte final, a lagoa estreita e aumenta o jardim.
Mais uma estátua, com flores em volta.
A passagem para o outro lado é feita por uma estrada que passa por uma ponte.
Aqui o horizonte é dominado pela catedral, lá em cima, na colina.
Neste lado a zona residencial é substituída por parques e edifícios públicos.
A caminhada terminou na zona dos bares, no centro.
Nesta tarde havia futebol, competições europeias, e estavam ligados vários televisores.
Na porta estava o horários dos jogos. Um deles era com o Benfica mas não tive sorte.
A maioria dos clientes eram britânicos e a democracia excluiu as minorias.

Uma das referencias da cidade é a catedral.
Consegue-se ver de várias partes porque está num alto. Para se chegar lá temos de subir uma rua, um pouco íngreme, mas é fácil.
Na catedral um homem tocava órgão. Poucas pessoas assistiam.
Fiquei com a ideia que estavam de passagem. Fizeram como nós. Sentaram-se a ouvir a música mas durou apenas alguns minutos.
Estava a ensaiar para um concerto que teria lugar mais tarde.
A catedral é como a estátua da marginal. Simples, bonita e serena.
Os vitrais dão uma luminosidade suave e a pedra dos pilares um toque frio e robusto.
O que ficou mais na memoria foi a vista da cidade a partir da torre.

Pode-se subir até ao topo.
O vento muito frio impede uma longa contemplação. No entanto, tem-se uma visão de conjunto.
A disposição da cidade, o planeamento das ruas e o contraponto entre o mar e o interior da ilha.
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