Percurso longo. Para chegar a tempo do avião em La Paz para Uyuni, tive de apanhar um autocarro às 7h.
No Utama disseram-me que havia vários e recomendaram-me três companhias. Garantiram que não havia qualquer problema em partilhar o autocarro com locais. Tinham razão. Melhor, foi uma boa sugestão.
A noite foi agitada. Uma trovoada, mesmo em cima de Copacabana. Os trovões tão intensos e frequentes nem deixavam ouvir o barulho da chuva.
Saí muito cedo. As luzes do hotel ainda estavam apagadas e descobri mais uma qualidade do iphone.
O homem do hotel dizia que era muito cedo. Pouco depois acrescentava que estava na altura certa de ir embora (ou ele é que ainda achava que estava na hora certa de dormir mais um pouco).
Faltavam alguns minutos para as 6.30h e lá fui sozinho pelas ruas de uma vila boliviana. O contrário de todas as recomendações de segurança.
Na praça dos autocarros começavam a chegar os vendedores ambulantes com as suas barraquinhas., alguns cães dormiam enrolados e um autocarro começava a receber passageiros.
O silêncio da manhã era interrompido por um angariador de clientes que gritava “La Paz”, La Paz”. Do outro lado da rua, os homens das vans gritavam “Tiquina, Tiquina”.
Aguardei algum tempo, quase meia hora, para ver se os escritórios das companhias de transporte abriam. Nada, tudo continuava fechado. Acabei por ir falar com o angariador do único autocarro para La Paz.

Quando entrei já havia um grupo de jovens franceses. Ao longo da viagem revelaram algumas das caraterísticas originais.
Ocuparam os lugares sem respeitar os bilhetes, se alguém aparecia para ocupar um dos lugares, assumiam um ar ingénuo e ignorante. Pior de tudo, expressavam sempre um ar superior e de repulsa em relação aos bolivianos. Jovens de idade e centenários na assimilação cultural.
Pouco a pouco o autocarro foi enchendo. Na fila atrás ficou uma outra turista. Jovem. Parecia constipada mas passou quase metade da viagem a cantar em voz alta, o que irritava os franceses.

Já com o motor a trabalhar, entrou um casal de idosos. A mulher ficou ao lado da turista cantaroleira dos Beatles. O homem foi o meu vizinho de viagem.
Parecia que estava com frio e repetidamente forçava as janelas para evitar qualquer aragem. Minutos depois começou a contar moedas e, mais tarde, algumas notas de 10 bolivianos que tinha todas dobradas. De vez em quando falava sozinho. Gesticulava ao mesmo tempo. Como quem diz: “isto é assim e assim. Ponto final”. Mais tarde fazia um outro gesto que se pode traduzir em “Está decidido”.
Quase sempre muito concentrado, ia vasculhando o nariz e quando pescava alguma coisa largava a presa no assento do lado da janela.
Com a mulher foi trocando algumas palavras e, depois, um saco. Tinha pão lá dentro e tirou um naco.
Pelas ruas de Copacabana ainda foi entrando mais gente. Mesma na estrada que serpenteia os Andes surgiam de nenhures alguns casais. Elas sempre com trajes tradicionais, meias grossas, sapatos bicudos e longas tranças.

Quando chegámos ao cais de Tiquina tivemos de sair.
Uma jovem turista ficou muito preocupada. Ela queria saber o que se passava. O motorista falou com um militar e a resposta foi peremptória: é proibido atravessar o canal dentro do autocarro.
A travessia para os passageiros é feita numa pequena embarcação. Custa 2 bs. A travessia é partilhada com bolivianos.
A vista da travessia é bonita e a passagem é rápida. Do outro lado instalações militares. A Bolívia está muito militarizada. Estão em todo o lado.
Retomámos a viagem e depois de muitos kms a ver o Titicaca, entrámos na estrada principal. Que liga Desaguadero a La Paz.
Um furo. Mais meia hora de paragem. Homens e mulheres bolivianos saíram do autocarro e, com grande curiosidade e alguns comentários, assistiram à mudança de pneu.

Pouco depois das 10h surgiram os primeiros sinais de uma zona urbana.
Confusa, sem arruamentos. Vendedores de tijolos, sementes, bate-chapas... e tendinhas de comida.
Centenas de prdios de dois a três andares despidos de tinta. Só a cor de tijolo. Nas ruas andam centenas de pessoas. Com ar rural. Contornam as tendas, serpenteiam pelo meio dos carros e saltam as valas quando se dirigem para as casas.
O trânsito começa a ficar caótico. Na verdade, em alguns locais, não se percebe bem onde é a rua.
Tudo serve para seguir em frente, para os lados e em sentido contrário.

Em El Alto, antes de entrar no cento de La Paz, saí do autocarro. O motorista disse aeroporto e segui a sua sugestão. Erro.
Vale mais ir para a última paragem. Demora mais tempo mas é mais seguro. Aqui é-se despejado no meio do caos.
A sorte foi um boliviano que me orientou e até acompanhou parte da viagem numa van. Antes de nos separarmos teve o cuidado de me levar a uma mulher polícia para perguntar onde era a paragem para o aeroporto. Ela respondeu “é já ali e vem lá um”. Consegui atravessar o cruzamento no meio do trânsito caótico e num instante a van levou-me ao aeroporto.
As instalações são pequenas, estavam em obras e com cartazes de Evo Morales. A foto do presidente é uma constante em toda a Bolívia.

O voo para Uyini na Amaszonas é rápido. 50 minutos.
Apesar de a maioria dos passageiros serem estrangeiros, a tripulante só falava espanhol.
Antes de aterrar já se vê a imensidão do salar e percebe-se que estamos num terreno desértico.
A confirmação surge de imediato. Na pista sente-se o vento que transporta imensa poeira. 14 graus, nada mau.
É bom o hotel Jardines de Uyuni. Um paraíso para se descansar, mais ainda para os viajantes do salar.
As baterias foram carregadas a ver o Benfica ganhar à Juventus. Tudo com nova energia. Chá de coca, o iphone e a nikon.

Uyuni é muito feio.
Quadrados de casas feias, divididas por ruas de pó e com postes a meio a fazer de rotunda.
Jipes cheios de pó seguem em direção aos hóteis. Matrículas da Bolivia e também da Argentina e do Chile.
O quarteirão onde está o posto de turismo é o mais animado. Com restaurantes e muita gente a passear e às compras. Como é habitual, também muitos cães. Pouco mais.
Fotos da Bolivia