Chegámos a Manama, a capital do Bahrain num voo da Gulf Air proveniente do Qatar.
É um voo rápido. Em menos de uma hora estamos em Manama.
A grande maioria dos passageiros são trabalhadores, essencialmente asiáticos, que fazem escala no Bahrain para seguirem para os respetivos países na Gulf Air.
Uma das tripulantes era portuguesa. Há vários anos que trabalha nesta companhia aérea e a sua expetativa era mudar para voos de longo e médio curso.
No aeroporto do Qatar também encontrámos um grupo de militares dos USA que seguiam para Bagdad.
O aeroporto de Manama fica ao lado da cidade.
São cinco minutos do aeroporto ao Novotel. Fica perto da zona empresarial.

É um resort acolhedor, sossegado, com uma vista magnifica para Muharraq e para Abu Mahir fort cuja torre terá tido origem numa construção portuguesa.
Os quartos estão bem apetrechados.
O melhor é a praia privativa. Não é muito grande mas o suficiente para quem descansar e descobrir Manama.
Às horas de menos calor, praia e piscina. Ao final do dia ou hora de almoço, passeio pela cidade.
Os táxis não são caros. Na saída do hotel, num pequeno jardim está sempre alguém à espera de cliente. Em cinco minutos estamos no centro da cidade.
Manama é mais pequena do que Doha.
Menos desenvolvida. No entanto, também é mais fácil andar a pé.
A cidade é segura. Tem souqs em vários locais, também restaurantes e cafés.
Dá para ir descobrindo a cidade e fazer pausas em alguns cafés.

Para o forte de Bahrain a distância é maior . Tem mesmo de se ir de táxi. O condutor até combina a hora de regresso e vai buscar na hora.
O forte de Bahrain, Qa’lat al-Bahrain ocupa um lugar estratégico no Golfo Pérsico.
A sua relevância vem de há vários milénios.
Está situado numa colina artificial (tell), com um raio de ação muito amplo.
Tem uma torre com vista para o Golfo e que antes era iluminada, funcionando como farol.

A origem do lugar remonta a 3.000 A.C e foi ocupado pelos portugueses no sec. XVI e o seu nome advém de Qal`at al-Burtughal (forte português)
Foi várias vezes reformulado e hoje é uma estrutura ampla, com várias seções que, por sua vez, foram ao longo do tempo adaptadas para funções militares, religiosas, habitação, comercio...
O forte tem um museu. Foi inaugurado em 2008.
Cerca de meio milhar de artefatos descobertos com as sucessivas escavações fazem parte do espólio do museu.
Encontramos registos e recriações da actividade económica do arquipélago, costumes, ritos e vestuário.
O forte está classificado como património da humanidade pela Unesco desde 2005e é um dos cartões de visita do Bahrain.

O forte tem uma vista magnifica para o Golfo e também para Manama.
Há mesmo uma sensação estranha. No mesmo horizonte partilham ruínas, escavações, construções com milhares de anos e, lá ao fundo, torres enormes com materiais e arquitetura contemporâneos.
Um contraste de cores e de materiais.
Visitamos o forte no final da tarde. Poucos visitantes.

O mais fantástico foi a luz dourada refletida nas pedras da muralha. Num segundo momento, já no exterior, dois cavalos a trote a descerem a colina num cenário amarelo ocre.
O regresso ao centro de Manama foi pela praça onde estava o monumento dedicado à apanha das pérolas e construido em 1982.
Uma escultura com seis mastros a sustentarem no alto uma pérola, toda branca que refletia de modo uniforme a luz.

Cada mastro representa um dos países do Golfo e a pérola remete para uma atividade que marcou toda esta região durante vários séculos e que teve forte impato até meados do século passado. Segundo um relatório da Companhia das índias, em meados do séc. XIX havia no Bahrain cerca de 3500 embarcações para apanha das pérolas e em muitas aldeias e comunidades a economia estava completamente dependente do comércio de pérolas.
Hoje a apanha das pérolas funciona mais como atração turística. As condições árduas, com enorme esforço físico e muito arriscada fazem parte do passado. O cultivo artificial de pérolas na Ásia provocou uma concorrência a desfavor dos países do Golfo.
O monumento estava no meio de uma praça com palmeiras. Numa zona comercial e rodeada de edifícios modernos. Foi nesta praça que ocorreram os protestos de milhares de pessoas quando da primavera árabe. Não teve sucesso. A revolta foi anulada com a intervenção de militares designadamente da Arábia Saudita. Em Março de 2011 o monumento foi destruído. Citado pelo NY Times o ministro dos negócios estrangeiros do Bahrain disse que a demolição da escultura “foi para apagar más memorias”. O movimento pró-democracia “o que conseguiu foi polarizar a nossa sociedade. Não queremos um monumento com má memoria”.
Um dos locais preferidos do regime é o Museu Nacional. Fica na ligação entre Manama e Muharraq. Na mesma rua onde está o Novotel.

Parece perto mas com sol forte ainda custa um pouco fazer o caminho a pé.
O museu é muito interessante.
Não apenas o edifício moderno mas também a zona envolvente que surpreende.
Esculturas ao ar livre com vista para o Golfo e para Muharraq .
O museu foi inaugurado em 1988 e tem nove salões.
Foi o primeiro museu na região do Golfo e, nas comemorações dos 25 anos foi noticiado que pretendem expandir-se.

Na altura em que fizemos a visita, no piso térreo, fomos confrontados com outra surpresa: um Buick. O carro é de 1932, está restaurado e foi uma prenda do governo dos USA ao califa Isa bin Salman.
O museu tem um acervo muito grande. Cobre os últimos seis mil anos do Bahrain. Vai desde vestígios da Assíria à civilização Dilmun , à presença dos portugueses e até aos tempos mais recentes, à fase pré-industrial.
O museu mostra muitos artefactos arqueológicos mas também reconstitui tradições e atividades económicas que perduraram até meados do sec. XX.
Devido ao calor é agradável passear por Manama ao final da tarde, principio da noite.
O ambiente é seguro. Os turistas não são incomodados e os locais são gentis (e curiosos).
Percorremos a corniche desde o Museu Nacional até à al Fateh Mosque

A mesquita é muito bonita.
Pode ser visitada diariamente entre as 9 e as 16h, com exceção das sexta-feiras e feriados.
É um edifício enorme, com dois minaretes. A cobertura da parte central é de fibra de vidro.
É uma das maiores mesquitas em todo o mundo e permite reunir sete mil fieis.
A mesquita foi construída em 1987 e foi-lhe dado o nome de Ahmed Al Fateh, que conquistou o Bahrain no sec. XVIII.
A mesquita alberga ainda a biblioteca nacional.
O espaço está rodeado de palmeiras e é protegido por um muro pouco alto.
A altura dos minaretes e a iluminação destaca a mesquita em toda esta zona da cidade.

A corniche de Manama também é interessante mas fica aquém da de Doha. Mais pequena, com menos gente à noite. O ponto comum é a diversão para crianças e permitir aos apaixonados de fotografias tirarem partido de um excelente cenário para fotos noturnas.
Na corniche passámos pelo garden park e pela coral Bay. De um lado as águas do Golfo. Do outro lado, a alfatih, uma via rápida que não é fácil de atravessar.
A esta hora, um pouco depois da mesquita, pratica-se futebol. É uma zona verde onde se ouvem apenas os jogadores e o árbitro/treinador.
Há muito restaurantes com comida tradicional.

Jantámos num destes restaurantes.
Muito frequentado por locais. Interessante porque dá para observar os rituais e os costumes.
Irresistíveis são as lojas de doces árabes. Não se pode parar. O problema é que há muitas. Algumas delas dão para saborear os doces e tomar um café.
Além, claro, do saco com mais doces que segue viagem para o hotel...

Uma outra visita obrigatória é ao souq de Manama.
É agradável ao final da tarde, principio da noite.
Está localizado na zona norte, na parte antiga. É uma área grande. Com prédios de dois a três andares e ruas estreitas e labirínticas.
Muito do comércio é feito na rua.
Muita gente a andar de um lado para outro. Turistas e, essencialmente locais e trabalhadores do Paquistão, Bangladesh, Egipto e India.
Temos de nos desviar de imensos sacos, bancas, objectos que funcionam como montra na rua, carros, transporte de mercadorias… É mesmo um ambiente árabe. Até na arquitetura. Ruas que se cruzam muitas outras vias, casas de cores leves, acastanhadas, lojas tradicionais e modernas. E é muito fácil perder as referências, o caminho de volta ou a saída.
O indicado é visitar a pé, com uma garrafa de água e a máquina fotográfica discreta.
O souq vende de tudo. Artesanato, especiarias, jóias, pérolas, roupa, frutos secos, eletrónica, perfumes...
Pode e deve regatear mas não pense que vai ter grandes descontos. Os preços são para todos os bolsos. Produtos muito baratos a muito dispendiosos.
Muharraq é a terceira maior cidade do Bahrain e a antiga capital. |
Fica mesmo ao lado de Manama e o aceso é feito através de pontes.

Foi este o caminho que fizemos. Fomos a pé a partir do Novotel que se situa numa das estradas, a Shaik Hamad, que faz a ligação a Muharraq.
O caminho faz-se bem a meio da tarde.
Passámos ao lado de um outro resort e depois um pequeno estaleiro de reparação naval. Alguns homens trabalhavam na recuperação de uma embarcação. Com calma e curiosidade sobre quem passava na estrada. Na história do Bahrain figura a construção de dhows.
Em Muharraq existiam grandes estaleiros. Hoje desapareceram.

Um outro momento interessante da caminhada é ver a King Fahd Causeway
Nesta parte o destaque é a ponte. Espetacular e com o por do sol mais bonita ainda.
A King Fahd Causeway liga o Bahrain a Khobar, na Arábia Saudita. É uma extensão de 25 km, a maior parte nas águas do Golfo. Tem imensas pontes e viadutos. Foi inaugurada em 1986, quatro anos após o inicio da construção.
É a única ligação do arquipélago ao continente e uma das vias com mais tráfego na região do Golfo.
Tem imenso valor estratégico e também reforça a dependência em relação ao país vizinho.
As populações dos países do Golfo podem circular sem grandes dificuldades. Os restantes precisam de visto para entrar na Arábia saudita o que, na maior parte dos casos, não é concedido. Só para trabalhar.
O nosso objetivo era fazer a ligação por terra a partir do Qatar, através da Arábia Saudita. Não nos concederam o visto e tivemos de viajar por avião.
Face a esta situação, há sempre uma oportunidade para o negócios. Aluga-se um carro, chega-se próximo da fronteira e pode-se almoçar num restaurante panorâmico com vista para A Arábia e para o Bahrain. Esta é uma das propostas mais frequentes dos guias.

Regresso ao caminho para Muharraq.
Depois de se atravessar a ponte que atravessa o estreito entre as duas ilhas percebemos de imediato que entramos num mundo diferente.
Pouco tem a ver com Manama.
Mais confuso, um ambiente mais ruidoso, denso e agitado.

A exceção é a zona verde junto ao Golfo, o Alghous Park.
É a corniche de Muharraq.
Uma via pedonal com vista magnifica para Manama.
É um lugar asseado, com muitas sombras das árvores e lugar de passeio das famílias.
A área urbana de Muharraq é mais pobre do que Manama, com mais confusão.
Muitas pessoas de um lado para o outro. Em praças, em filas para os autocarros . Táxis, carros a buzinar. É um corropio.
Mas, não deixa de ser menos interessante do que Manama.
Mais tradicional, mais típico, mais genuino.

A praça que nos recebe evidencia já o predomínio do comércio. Lojas tradicionais, espaços do passeio ocupado com bancas, locais a serpentear as ruas e muitos homens sentados no exterior dos cafés a verem quem passa.
Pouco depois entramos em ruas mais estreitas. Uma mesquita pequena e, umas ruas à frente, o Muharraq Souq.
É mais pequeno do que o de Manama e é famoso pelos doces, em especial a Halwa bahraini e pelo café árabe.

Vendem de tudo. Em lojas, ao ar livre. Ruas cheias de gente. Uns a fazer compras outros a transportar mercadorias.
A parte mais antiga do souq é a Qaisariya, um lugar classificado pela Unesco que foi recentemente recuperado.
Não é fácil a orientação. As casas têm dois pisos, não há no horizonte referências que nos possam ajudar. De certa forma, é seguir o caminho da maior parte das pessoas.

Um pouco mais à frente está o Abu Mahir fort.
A viagiar o estreito entre as ilhas de Manama e Muharraq.A fortificação foi destruida pelos ingleses em 1868.
Foi recuperada e sujeita a vários trabalhos de pesquisa arqueológica.
Na parte da torre foram encontrados vestigios na fundação de que esta construção terá sido iniciada por portugueses.
A fortaleza não é grande. Teria pouco mais de uma centena de militares.

Um outro projeto que destaca Muharraq é o restauro de casas tradicionais islâmicas.
Na última década foram restauradas várias habitações e são agora utilizadas para fins públicos.
Muitos destes edifício têm janelas de madeira, um pátio, uma torre que serve para arejar a habitação e, em outros casos, portas de madeira, decoradas e pequenos vitrais.

Fizemos algumas compras e regressámos de táxi. Estava a escurecer.
Mas, ainda a tempo de ver ao longe o Abu Mahir fort. Do outro lado, o por do sol na ponte do Rei Fahd a espraiar-se pelas água do Golfo.
Mais próximo do nosso hotel, o amarelo ocre que transformava duas torres em silhuetas.
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